sábado, 31 de março de 2012

Crítica: "Jogos Vorazes", de Gary Ross

Por Emanuelle Canavarro

 
Ouvi dizer que "Jogos Vorazes" era mais uma franquia adolescente, no medíocre estilo da saga de vampiros que brilham no sol. Fiquei até com medo diante dos comentários, mas resolvi tirar essa história a limpo.

Resultado: descobri que o filme não se sustenta no moralismo americanizado pedante, como aquele encontrado em "Crepúsculo" e outros do gênero; pelo contrário, questões morais sérias são abordadas com competência. Não o assistiria de novo, mas vale o ingresso.

 
Adaptado da obra literária de Suzanne Collins, “The Huger Games” – o primeiro de uma trilogia que continua com “Catching Fire” e termina com “Mockingjay”, já publicados no Brasil –, o filme ganhou os ares cinematográficos sob a competente direção de Gary Ross (“Seabiscuit”, 2003).

Mesmo deixando a desejar no quesito originalidade, a abordagem chama a atenção ao dar margem à crítica de uma sociedade que se autoconsome, em meio à manipulação de pessoas como forma de entretenimento.

 
Em uma perceptível referência a “1984”, clássica obra de George Orwell, a trama se constrói em uma sociedade futurista distópica, onde os EUA se esfacelaram e, no lugar dele, surgiu um país chamado Panem – que foi dividido em 12 Distritos, mais a capital.

Devido a uma rebelião frustrada, há 74 anos, que culminou no extermínio do 13º Distrito, a Capital (que mais parece o “país das maravilhas”), criou os "Jogos Vorazes", uma espécie de versão high-tech dos jogos gladiatoriais romanos.

Cada Distrito tem que oferecer, ano após ano, dois tributos: um menino e uma menina, na faixa de 12 a 18 anos. No total, os 24 participantes são levados a uma arena megalomaníaca e têm de lutar até a morte – tudo controlado pelo governo e transmitido para o público em um reality show.

O vencedor, único sobrevivente, garante ao seu Distrito um bônus em suprimentos e regalias pelo próximo ano.

 
A trama acompanha Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), adolescente de 16 anos que se oferece para lutar no lugar da irmã, sorteada pelo Distrito, ao lado do jovem Peeta Mellark (Josh Hutcherson).

Depois de excelentes atuações em filmes como “Inverno da Alma” (2010), “X- Men Primeira Classe (2011) e “”Like Crazy” (2011), a atriz acrescenta muito ao filme com a sua performance que transita da doçura ao medo, passando pelo tom desafiador, com bastante desenvoltura.

Agora, ela aparece cercada por ótimos nomes, como Stanley Tucci, Wes Bentley, Woody Harrelson, Toby Jones, Elizabeth Banks e Donald Sutherland.

 
O espetáculo de horrores reflete a temática do poder da manipulação da comunicação. Algumas cenas parecem até inverossímeis em um primeiro momento, mas, se considerarmos o fato de que vivemos num mundo que dá ibope para coisas como Big Brother e outras involuções, elas acabam se tornando plausíveis.

Os Jogos Vorazes nada mais são do que ferramentas de controle de um estado fascista, que explora seus 12 Distritos para que os habitantes da Capital vivam na pomposidade do luxo.

 
Apesar do teor relativamente violento da história, o diretor Gary Ross opta por desviar-se elegantemente da barbárie, dando vislumbres dela, claro, mas extraindo das cenas o impacto gráfico que poderia torná-las fetichistas (obviamente, por conta da classificação indicativa).

O enredo dá brecha a uma discussão sobre a preocupação cada vez maior de uma geração jovem que cresce em meio à violência permitida e incentivada pela mídia, quando o governo de fato obriga seus jovens a serem violentos com o seu próximo.
 
O sempre eficiente Stanley Tucci está excelente como apresentador do torneio, Caesar Flickerman, à moda Pedro Bial (sem as gracinhas ou arroubos poéticos), que varia sua personalidade de incentivador dos competidores a aquele que deseja mais sangue e audiência.


Woody Harrelson, o responsável por orientar Katniss e Peeta antes da competição, também merece destaque pela atuação.

Josh Hutcherson conquista sua importância na trama, como Mellark, demonstrando uma insegurança acompanhada de integridade.

 
O blockbuster arrecadou US$ 61,1 milhões nos EUA e Canadá e ficou em primeiro lugar nas bilheterias da América do Norte, pelo segundo fim de semana consecutivo.

De acordo com as estimativas dos estúdios, "Jogos Vorazes" está acima de "Fúria de Titãs 2", com Sam Worthington, que amargou o segundo lugar em sua estreia com US$ 34,2 milhões.Perseu derrota monstros gigantes em “Fúria de Titas 2″, mas provou que não tem a mesma força para derrubar uma menina armada de arco e flecha.

 
NOTA: 7.5

sexta-feira, 30 de março de 2012

Crítica: "O Artista", de Michel Hazanavicius

Por Caio Pimenta

O cinema já passou nestes seus mais de 100 anos de história por diversas transformações. Desde a chegada do som e das cores ao atual uso desenfreado do 3D, evoluções surgem gradualmente e sempre causam um grande frisson.

Porém, após a sensação causada pela novidade, o que realmente interessa e fica para o público são as boas histórias, capazes de emocionar, gerarem reflexão ou apenas nos fazer rir ou chorar.

 
E é justamente por isso que “O Artista” é uma obra tão marcante.

Você deve estar pensando que demorei um século para falar do filme francês que ganhou o Oscar 2012. Entretanto, acredito que isto se faz necessário devido ao fato tão alardeado dele ser uma obra em preto-e-branco e muda em pleno século XXI ter ganhado mais crédito que o simples fato de ser uma obra simples, mas comovente, com dois grandes atores em ótimos personagens, uma trilha sonora majestosa, uma direção segura e possuir, pelo menos, três cenas clássicas.

 
O longa mostra a história do galã do cinema mudo George Valentim (Jean Dujardin) no final da década de 20, quando as produções faladas mudam o panorama de Hollywood. Empolgados com a nova tecnologia, o público se desinteressa pelos filmes produzidos pelo então astro fazendo com que a carreira dele e suas finanças entrem em colapso.

Para piorar, ele vê a ascensão de Peppy Miller (Bérénice Bejo), garota que ajudou no início da carreira em Hollywood. Ela, porém, apaixonada por Valentim, vai tentar tirá-lo do ostracismo.

 
“O Artista” nada seria sem a sua brilhante dupla de protagonistas: Dujardin e Bejo.

 
Vencedor do Oscar de Melhor Ator, Jean Dujardin é um daqueles astros que possui brilho próprio: o domínio de cena apresentado logo na sequência inicial é brilhante, revelando timing cômico preciso e dando uma noção clara do caráter egocêntrico e canastrão de Valentin.

Ele também mostra ser bem versátil, transitando naturalmente das cenas de comédia do início do filme para o drama que domina a segunda metade da história.

 
Já a atriz argentina Bérénice Bejo é uma atriz de extremo carisma quando está em cena: não há como deixar de torcer pela personagem dela ao vê-la dançar com uma energia ímpar para ser aprovada em um teste de elenco.

A variação que faz entre as duas fases da carreira de Peppy é sutil, mas marcante: repare nas caras e bocas dela durante o período do cinema mudo e a atuação mais contida quando chegamos nos filmes falados.

 
O domínio da dupla é tão grande que atrapalha o desenvolvimento dos atores coadjuvantes, tornando os veteranos John Goldmann e James Cromwell quase esquecidos.

O único que consegue um destaque maior é o cãozinho Uggie, que de tão bom que está em um momento decisivo do longa, chega a assustar.

“O Artista” ainda tem um protagonista invisível: a trilha sonora de Ludovic Bource. Durante os 100 minutos de projeção, as composições do maestro francês dão um ritmo ao filme que faz o espectador se lançar de vez na trama, além de não cansá-lo.

Seja com temas alegres ou tristes ou tensos, a trilha é figura marcante, conduzindo o público aos resultados que a obra pretende alcançar, principalmente em seus três momentos chaves.

 

Já direção de Michel Hazanavicius é elegante e eficiente, pois não traz para si a atenção do filme: ele parece saber que o brilho vem, acima de tudo, de seus atores e da trilha de Ludovic.

O trabalho maior do cineasta está ao trabalhar nos pequenos detalhes que incluem desde a passagem de uma cena para outra usando elipses típicas dos filmes da época a coloração repentina de trechos que indicam sutilmente uma outra mudança que vai abalar a estrutura do mundo do cinema, além da fotografia do longa, dosando bem as cores fortes do início pujante de Valentim com as sombras da fase decadente do astro.

Além disso, é espirituoso ao fazer homenagens a grandes astros e clássicos da história do cinema (a cena do jantar entre Valentim e a esposa, por exemplo, remete a um momento inesquecível de "Cidadão Kane, por exemplo).

 
Como nem tudo no mundo são flores, o roteiro de "O Artista", apesar de simples, sofre altos e baixos, sendo o ponto mais fraco desta bela obra. Além do já citado pouco interesse nos outros personagens da história que não sejam os protagonistas, o longa francês não consegue convencer bem no real motivo que o personagem de Dujardin tem em não aceitar fazer filmes falados.

Apesar de declarar que não considera a nova fase tão artística quanto à outra, talvez outro elemento pouco explorado na história, se encaixe melhor como a razão verdadeira: a dificuldade de George Valentim em se expressar bem em inglês, devido a uma possível origem estrangeira do astro. O fato era comum na época, vide duas das maiores estrelas do cinema mudo, Ramon Navarro e Rodolfo Valentin (este,  a maior inspiração para o protagonista de “O Artista”) serem, respectivamente, mexicano e italiano.

O que poderia acontecer com a imagem de Valentim caso se descobrisse uma voz terrível? Ou com sotaque forte, em um país que defende suas raízes de maneira tão firme como os EUA?

Infelizmente, é algo que o roteiro do longa não aborda e cria uma lacuna significativa, fazendo com que boa parte do segundo ato do filme seja arrastada, além de transformar Valentim em um tolo, já que muitas vezes sua relutância parece ser apenas orgulho ferido.

Apesar dessa falha, "O Artista" nos brinda com três cenas para entrarem como clássicas da história do cinema.




SPOILERS - NÃO LEIA CASO NÃO QUERIA SABER DETALHES CRUCIAIS DO FILME

 
- a sensualidade e bom humor de Bérénice Bejo ao vestir o casaco de Valentim e conduzir uma fictícia dança entre os dois é daqueles momentos de graça que nos faz relembrar gênios do humor como Charles Chaplin, Frank Capra e Billy Wilder. A cena ainda termina com um importante detalhe que irá mudar a trama.

 
- o pesadelo de Valentim ao escutar o barulho de um copo ao bater na mesa dá início a um momento em que brilham a edição de som e a atuação de Dujardin. Uma cena que somente o cinema é capaz de proporcionar.

 

- já a sequência final faz com que angústia, tragédia e humor sejam um só. Tudo isso por causa de uma trilha sufocante de Ludovic, edição cuidadosa, atuações fortes (incluindo aí a do cachorrinho) e um roteiro inteligente (BANG!).




FIM DOS SPOILERS

 

Lembrando em muitos momentos o clássico "Cantando na Chuva", "O Artista" faz jus a todos os prêmios vencidos neste início de ano. Pode não ser a mais original das história, mas emociona e encanta o público.

Fato mais importante do que qualquer estética ou estilo que possa ser empregado.

 
NOTA: 8.5

PS: "O Artista" estreou nacionalmente no dia 10 de fevereiro. Chega agora aos cinemas de Manaus no dia 30 de MARÇO!

Foram 48 dias de atraso (um mês e meio). Enquanto isso, cidades com menos salas, população e poderio ecônomico receberam o longa-metragem francês antes da capital amazonense. É lamentável ver que estamos na rabeira da prioridade das distribuidoras quando se fala cinema alternativo ou mais adulto.

Pode parecer besteira, coisa pequena perto dos problemas que temos no nosso dia-a-dia.

Talvez, até seja, porém, acredito que um local possa se desenvolver e crescer mais quando, entre outras coisas, discutimos  nossas atrações culturais, o que nos é oferecido em termos de shows, literaturas, obras de arte e cinema também, não apenas consumi-lo.

Enquanto "O Artista" ficou ausente de nossas 37 salas de cinema (serão 49 até o fim do ano), vimos pelas telas locais "clássicos" como "John Carter", "Cada um Term a Gêmea que Merece", "O Pacto", "Protegendo o Inimigo", "Motoqueiro Fantasma 2".

Não que estes filmes não tenham que estrear nos cinemas, afinal há público para eles. O que não aceito é não termos um espaço para filmes mais alternativos, de grandes cineastas ou de outros países fora do eixo hollywoodiano, obras diferentes das que são oferecidas semanalmente.

Com isso, a opção é baixar filmes, coisa que faço apenas em última ocasião, já que considero que assistir o filme no ambiente de um cinema faz com que se realce coisas que na televisão, por melhor que seja, não consegue transmitir.


Enfim, vou morrer batendo nisso. Ou me mudar de cidade.

Acho a segunda solução mais fácil.

PS 2: Consegui assistir "O Artista" em uma viagem a São Paulo há três semanas. Somente assim para ver este filme,


PS 3: Ah! O documentário em 3D sobre balé dirigido pelo Win Wenders, "Pina", está sendo exibido em Belém. A capital paraense possui 19 salas.

Sabe quando "Pina" vai chegar aqui?

Adivinha....

quinta-feira, 29 de março de 2012

Estreias da Semana nos Cinemas de Manaus - 30 de Março

Filme: O Artista
Direção: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell
Sinopse: Na Hollywood dos anos 20, George Valentin (Jean Dujardin) é uma das maiores estrelas do cinema mudo, participando de dezenas de aventuras ao lado de seu cão da raça Jack Russel Terrier. Inveja de muitos homens, ele lentamente começa a se defrontar com o ostracismo após a invenção e chegada do cinema falado, que tem um desastroso efeito na vida do astro. Enquanto sua amiga Peppy Miller ganha notoriedade com essas mudanças, Valentin é cada vez mais relegado ao esquecimento.
Onde: Cinemais e Playarte

Filme: Fúria de Titãs 2
Direção: Jonathan Liebesman
Elenco: Liam Neeson, Ralph Fiennes, Sam Worthington, Bill Nighy
Sinopse: Uma década depois de derrotar o monstro Kraken, o heróico Perseu (Sam Worthington) tenta levar uma vida calma como pescador e criar sozinho o filho Helius. Quando Hades decide aliar-se a Ares (Edgar Ramírez) e fazer um acordo com Cronos, Perseu tem de deixar de lado as suas pretensões e voltar a participar na luta dos Deuses.
Onde: Cinemais, Cinemark, Playarte e Severiano Ribeiro

Filme: Lorax - Em Busca da Trúfula Perdida
Direção: Chris Renaud, Kyle Balda
Elenco: Vozes de: Zac Efron, Danny DeVito, Ed Helms, Taylor Swift
Sinopse: O menino Ted descobriu que o sonho de sua paixão, a bela Audrey , é ver uma árvore de verdade, algo em extinção. Disposto a realizar este desejo, ele embarca numa aventura por uma terra desconhecida, cheia de cor, natureza e árvores. É lá que conhece também o simpático e ao mesmo tempo rabugento Lorax, uma criatura curiosa preocupada com o futuro de seu próprio mundo.
Onde: Cinemais, Cinemark, Playarte e Severiano Ribeiro

quarta-feira, 28 de março de 2012

Classic Movies: "O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman

Por Jéssica Santos

 
A Morte (Bengt Ekerot) aproxima-se vestida com um manto preto, e exibindo um rosto branco; logo, joga xadrez à beira da praia com um incrédulo homem (Max von Sydow), cheio de dúvidas. Uma imagem inesquecível para os amantes do cinema.

“O Sétimo Selo”  se passa na Idade Média. O roteiro foi baseado na peça Trämålning, de Ingmar Bergman. No enredo, o cavaleiro Antonius Block (Sydow) acaba de voltar das cruzadas (extremamente violentas), daí encontra seu país devastado pela peste, e, por isso, sua fé não é mais a mesma.

Acompanhado de um escudeiro (Gunnar Björnstrand), Block observa o extermínio previsto na Bíblia (inclusive o título do filme foi tirado do livro do Apocalipse), e encontra com a morte em pessoa, que veio igualmente buscá-lo.

 
Ao se observar a obra de Bergman, nota-se que o diretor inclui muito da sua vida, nos seus filmes. Em “O Sétimo Selo” não é diferente. Quando escreveu o roteiro, ele passava por um momento semelhante ao do personagem central, Block. Estava em depressão por uma crise de fé e pelo medo da morte.

O diretor sempre debateu sobre a existência de Deus e disse, certa vez, que seu interesse era mais intelectual do que emocional. Esta é outra semelhança com Antonius Block, que faz a morte lhe perguntar: - você nunca para de questionar? Como ele diz que não, ela lhe fala que ele nunca se aproximará de uma conclusão.

Em certo momento do filme, Block chega a se queimar, apenas para se aproximar de uma bruxa condenada, e lhe perguntar o que o demônio conhece a respeito de Deus.

 
Para não morrer imediatamente, Block desafia a morte para um jogo de xadrez, e ela (que tem a certeza de que vai ganhar), aceita sem problemas. É impressionante o efeito que as cenas entre os dois são capazes de fazer com o telespectador.

A morte está de frente para o personagem principal, usando sua inteligência e malícia num jogo, e isso é angustiante e ao mesmo tempo, uma alegoria muito justa da nossa relação com o fim inevitável de todos. Em jogo, não está apenas a vida do cavaleiro, mas também a sua crença em Deus, e em todas as outras coisas.

 

Por esse forte resultado causado pelas cenas do jogo de xadrez, a sequência já foi repetida, de forma semelhante em vários outros filmes como "A Máscara mortal" (1964), de Roger Corman; “A última noite de Boris Grushenko” (1975), de Woody Allen; “O último grande herói” (1993), de John McTiernan; e “Bill e Ted – Dois loucos no tempo” (1991).

Até em shows, como o da cantora Shakira, a referência ao filme aconteceu. Lá, Bush e Saddam (duas pessoas responsáveis por muitas mortes) jogam xadrez, guiados pela morte.

Parece ser um filme extremamente trágico, talvez triste ou assustador; mas "O Sétimo Selo", ainda que tenha um tema pesado, é um filme divertido em muitos momentos, pois Bergman tinha a preocupação de mostrar a simplicidade da vida e, também, as possíveis agonias que um homem pode ter.


Minha única crítica é que Bergman toca em tantas variações de fé e desesperança que a estrutura dos episódios do filme se torna um tipo de barreira.

Considerados individualmente, os episódios servem como exemplos de como contar uma história econômica e com o máximo impacto visual. Mas como um filme, acaba vagando um pouco dentro de peças criadas, pois ele imerge em uma filosofia oposta à que vem, com o temor ou o humor para corresponder.

Interessante que Ingmar Bergman lançou outra obra-prima em 1957. "Morangos Silvestres" é, entretanto, completamente diferente.

 

Uma obra delicada e romântica, que fala de forma honesta sobre o sentimento de um senhor que começa a se recordar de amor de sua vida, e chega à conclusões sobre sua mortalidade e frieza.


Os próximos parágrafos contém Spoiler sobre o final do filme:

 
É interessante que apenas alguns artistas circenses são poupados do apocalipse. Amante do teatro, Bergman passa a mensagem que somente a arte pode ser a salvação. Mas esse final também é um sinal de alguma esperança na humanidade. Bergman dá a entender que a morte procura as pessoas corruptas e não aquelas puras de coração.

De frente para o fim de sua própria vida e próximo a ver a destruição geral da praga, o cavaleiro passa algum tempo com José e Maria e seu filho, e diz: “Eu vou lembrar nesta hora de paz. O anoitecer, a taça de morangos selvagens, a tigela de leite, de José com seu alaúde”. Salvar a família de morte torna-se seu último gesto de afirmação.

Sendo um filme de Ingmar Bergman, há a condenação às maldades cometidas pelo homem e às injustiças e hipocrisia da religião, que acontecem muitas vezes. Mas o filme também ressalta o amor, a arte e sua expressão na sociedade, e o encanto das coisas simples.

“O Sétimo Selo” é um filme artístico. A obra é um retrato do valor e da força que as inovações no cinema apresentaram nessa época, em que Hollywood estava em baixa.

 
A pergunta que permeia o filme é: como fugir ou pelo menos amenizar a terrível certeza do fim? Talvez nem a religião, e nem a alienação nos ajude, segundo Bergman.

 
Nota: 9.5

terça-feira, 27 de março de 2012

Cinco Nomes Decepcionantes da Atual Hollywood

Por Caio Pimenta

Bons atores e diretores deveriam relaxar apenas quando envelhecessem, depois de terem feito inúmeros trabalhos memoráveis.

Enquanto tiverem energia, tratem de trabalhar!

Infelizmente, alguns atores que possuem talento, além da simpatia do grande público, tem se especializado em fazer filme medíocres, ruins ou, o pior de tudo, esquecíveis.

Há também os diretores que conseguiram se apagar de tal maneira que fica até difícil recordar quais foram os bons trabalhos do sujeito.

Motivos para essas quedas variam: ego maior que o bom senso, acomodação após vitória no Oscar, apostas furadas, surgimento de novos astros, problemas familiares, entre outros.

A lista não inclui nomes como, por exemplo, Harrison Ford e Nicolas Cage, que enfrentam um momento singular em suas carreiras, causando esse momento terrível pelo qual passam.

Também não coloco astros como Morgan Freeman, Robert De Niro, Al Pacino e Diane Keaton, pois acredito que estes têm uma longa trajetória e, depois de um tempo, dão uma relaxada natural.

Os cinco nomes que verão a seguir decepcionaram muito nesses últimos dez anos, sendo que poderiam ter feito muito mais:

 
Adrien Brody

Olhar para esse nova-iorquino de 38 anos é ver a imagem de Wladyslaw Szpilman, o sofrido protagonista de “O Pianista”, clássico de Roman Polanski. Não há como desassociar os dois.

Porém, Brody não soube se desvencilhar do personagem, apostando em uma série de filmes em que seus papéis eram apagados, vide “King Kong” (desde 1932, na primeira versão do longa, que os únicos que interessam na trama é o gorila e a mocinha).

 
Além disso, estrelou os apagados “Camisa de Força”, “Splice – A Nova Espécie” e até mesmo a nova versão de “Predadores”.

Entre seus melhores papéis estão o esquisito Noah Percy no fraco “A Vila” (2004) e a ponta que faz como Salvador Dalí em “Meia-Noite em Paris” (2011).

Lamentável ver que após uma atuação fantástica que lhe rendeu o Oscar de melhor ator há nove anos, Brody hoje seja apenas um ator de carreira irregular.

Maiores Erros desde “O Pianista”
- “Camisa de Força”, de 2005
- “Splice – A Nova Espécie”, de 2009
- “Predadores”, de 2010

Filmes Esquecíveis desde “O Pianista”
- “Manolete”, de 2007
- “Cadillac Records”, de 2008
- “Giallo – Reféns do Medo”, 2009
- “Detenção”, de 2010
- “Armadilha do Destino”, de 2011

Boas Atuações desde “O Pianista”
- “A Vila”, de 2004
- “Meia-Noite em Paris”, de 2011

 
Denzel Washington

Carisma, Elegância, Credibilidade e Talento.

Reunir tudo isso em um ator é um dom raro, algo que faz o público comparecer em todo filme que o cidadão lança, além de ser aquilo que produtores e estúdios de Hollywood amam, pois são sinônimos (quase sempre) de boas bilheterias.

Denzel Washington é um desses casos. Com quase trinta anos de carreira, o astro possui uma filmografia sólida, com personagens marcantes em filmes importantes para sua época (“Malcolm X”, o maior deles). A cara de bom-moço e a força que apresenta o transformaram em um símbolo da cultura negra americana e exemplo a ser seguido.

Apesar de ter vencido um Oscar de ator coadjuvante em 1989 por “Tempo de Glória”. A consagração veio em 2001 com “Dia de Treinamento”, quando levou a estatueta de melhor ator.

Pois bem...

 
O que faz um cara desses querer ser o Bruce Wills do século XXI?

Parece sacanagem, mas Denzel depois que ganhou o Oscar em 2002 decidiu dedicar sua carreira a fazer filmes de ação de roteiros com criatividade zero.

Foram, ao todo, sete obras do gênero que se passarem no Telecine Action ou HBO’s da vida você vai querer ficar tentando lembrar o nome (e dificilmente, vai lembrar).

Na maior parte destes filmes, o astro procura sempre dar uma humanizada nos personagens, tentando transformá-los em criaturas sempre doces e sensíveis, mesmo os mais durões. “Chamas da Vingança” e o recente “Protegendo o Inimigo” são bons exemplos.

 
Tomara que ele volte o mais rápido a fazer um filme relevante, porque tá duro!

Maiores Erros desde “Dia de Treinamento”
- “Por um Triz”, de 2003
- “Chamas da Vingança”, de 2004
- “Protegendo o Inimigo”, de 2012

Filmes Esquecíveis desde “Dia de Treinamento”
- “Um Ato de Coragem”, de 2002
- “Deja Vu”, de 2006
- “O Seqüestro do Metrô”, de 2009
- “O Livro de Eli”, de 2010
- “Incontrolável”, de 2010

Boas Atuações desde “Dia de Treinamento”
- “O Plano Perfeito”, de 2006
- “O Gângster”, de 2007

 
Nicole Kidman

Tentar é benéfico para o ser humano, assim como errar. Os dois geram aprendizado e nos levam a não repeti-los.

A ex-esposa de Tom Cruise pode dizer que se encaixa bem nessa história de tentar e errar. Porém, essa segunda parte do parágrafo, ainda não foi assimilada tão bem assim pela beldade.
Kidman, no início deste século, era o que Kate Winslet é atualmente: a maior atriz do momento, realizando obras de extrema qualidade ano após ano e mostrando ser bastante talentosa.

Não é à toa que realizou novos clássicos como o musical “Moulin Rouge”, o terror “Os Outros” e o último filme de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados”, no qual é a uma das poucas boas coisas desta irregular obra.

O último grande filme dela foi o espetacular “Dogville”, obra experimental do controverso Lars Von Trier.

 
Dali em diante, foi uma sucessão de equívocos. Porém, muitas vezes, não por preguiça ou comodismo e sim por tentar acertar.

Como prever que um suspense como “A Intérprete” com Sean Penn e rodado dentro da sede da ONU poderia ser recebido tão friamente?

Como adivinhar que “Austrália” teria uma direção tão afetada e perturbada por Baz Luhrmann a ponto dele estragar o épico?

Como acreditar que um filme como “Nine” com gigantes do porte como Daniel Day-Lewis, Sophia Loren, Penélope Cruz, Judi Dench seria a bomba que foi?

Como saber que “A Feiticeira” ................................................. bem deixa para lá.

Pelo menos, Nicole Kidman deu um assopro de alívio ao público ao lançar o sofrido e belo “Reencontrando a Felicidade”.

 
Quem sabe ela não esteja aprendendo?

Maiores Erros desde “Dogville”
- “Reencarnação”, de 2004
- “Mulheres Perfeitas”, de 2004
- “Invasores”, de 2007
- “Austrália”, de 2008
- “Nine”, de 2009
- “Reféns”, de 2011

Filmes Esquecíveis desde “Dogville”
- “A Intérprete”, de 2005
- “A Bússola de Ouro”, de 2007

Boas Atuações desde “Dogville”
- “A Pele”, de 2006
- “Reencontrando a Felicidade”, de 2010

 
Russell Crowe

Para ser marrento e ter sucesso, o sujeito precisa não errar. Caso contrário, vão pisar nele na primeira oportunidade que este fracassar e deixá-lo de lado.

Russell Crowe abusou desse jeito valentão no auge de sua carreira quando lançou dois grandes filmes: “Gladiador”, de 2000 e “Uma Mente Brilhante”, de 2001.

Brigas com jornalistas, mau trato para com os fãs, declarações polêmicas e brigas com colegas de elenco causaram uma má impressão que ficou impregnada na carreira dele.

Tanta confusão causou a perda da possibilidade de faturar dois Oscars seguidos de melhor ator feito que somente foi alcançado até hoje por Cary Grant e Tom Hanks.

Logo após “Mestres dos Mares”, Crowe só foi fazer um filme dois anos depois com “A Luta Pela Esperança”, fracasso colossal de bilheteria e detonado pela crítica.

 
Neste mesmo ano, 2005, o astro foi preso em Nova York após atingir um funcionário de um hotel com um telefone. Em uma sociedade como a americana que não perdoa um mísero erro (se bem que mísero não é a palavra mais adequada para essa agressão), Crowe caiu em desgraça.

Dessa maneira, ele foi perdendo espaço e protagonizou filmes sem força, nem lembrando suas obras do começo dos anos 2000.

Além disso, quando teve grandes nomes do seu lado como Denzel Washington e Leonardo Di Caprio, foi completamente apagado, tornando-se um mero coadjuvante.

 
Receita para marrentos convictos: chazinho de tranqüilidade com pitadas de humildade.

Maiores Erros desde “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”
- “A Luta Pela Esperança”, de 2005
- “Um Bom Ano”, de 2006
- “Robin Hood”, de 2010

Filmes Esquecíveis desde “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”
- “Os Indomáveis”, de 2007
- “Rede de Mentiras”, de 2008
- “72 Horas”, 2010

Boas Atuações desde “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”
- “Intrigas de Estado”, de 2009

 
Steven Soderbergh

Steven Soderbergh conduz sua carreira como os diretores hollywoodianos do mainstream pedem à Deus ao mesclar grandes filmes de estúdio com obras pequenas e experimentais.

No início do século XXI, ele era o diretor da moda: com filmes fortes conseguiu marcar seu nome em Hollywood e achar grandes aliados na indústria. Nomes como George Clooney e Julia Roberts foram praticamente seus padrinhos.

Também não era para menos: o ex-astro de “Plantão Médico” começou a ser visto como ator de verdade a partir de “Irresistível Paixão”; já “a queridinha da América” ganhou seu primeiro Oscar com “Erin Brokovich”.

Entre esses dois filmes produziu sua principal obra: o corajoso drama sobre o a situação das drogas nos EUA, “Traffic”.

Para completar, lançou o excelente “Onze Homens e Um Segredo” com uma trama divertidíssima e um super elenco que, além de Clooney, tinha Matt Damon e Brad Pitt.

 
O que veio em seguida foram a mescla de filmes mais baratos/experimentais e grandes produções. Porém, o caldo entornou.

Isso porque os filmes mais alternativos pouca coisa trouxeram de interessante, enquanto as grandes produções foram tediosas, tendo como destaque o monótono “Solaris” e as fraquíssimas obras sobre a vida de Che Guevara.

Como se não fosse bastante, conseguiu acabar com o seu ganha-pão, já que fez dois filmes nada inspirados de “Onze Homens...”, cansando o público da série.

Atualmente, Soderbergh é um cineasta pouco lembrado tanto por cinéfilos quanto por jornalistas do meio. Seus filmes, antes cercados por expectativa, hoje surgem com uma mais uma atração do mercado.

 
Uma pena.

Maiores Erros desde “Onze Homens e Um Segredo”
- “O Segredo de Berlin”, de 2006
- “Doze Homens e Outro Segredo”, de 2004
- “Che 2 – A Guerrilha”, de 2008

Filmes Esquecíveis desde “Onze Homens e Um Segredo”
- “Solaris”, de 2002
- “Treze Homens e Outro Segredo”, de 2007
- “Che”, de 2008
- “O Desiformante”, de 2009

Bons Filmes desde “Onze Homens e Um Segredo”
- “Contágio”, de 2011 (com extrema boa vontade)



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Quem sabe não amplio ainda mais a lista?

sexta-feira, 23 de março de 2012

Estreia da Semana nos Cinemas de Manaus - 23 de Março

Filme: Jogos Vorazes

Direção: Gary Ross

Elenco: Jennifer Lawrence, Elizabeth Banks, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson

Sinopse: Em um futuro distante, depois da extinção da América do Norte, sua população é dividida em 13 distritos. Anualmente, dois jovens representantes de cada distrito são sorteados para participar de um reality showmortal. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é um deles, que se vê obrigada a participar da competição para salvar sua irmã e conseguir a liberdade de seu povo.

Onde: Cinemark, Cinemais, Playarte e Severiano Ribeiro