sábado, 14 de janeiro de 2012

Crítica: Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

Por César Nogueira


“Piratas do Caribe” revigorou as aventuras de capa, espada e armas-de-fogo em 2003. Muito de seu sucesso se deve ao carisma de Jack Sparrow, interpretado por Johnny Depp. Infelizmente, as continuações de “Piratas” não mantiveram o brilho do original, e Depp entra mais no piloto-automático a cada edição da cinessérie. Baseando-se na receita de sucesso dos piratas, Guy Ritchie levou Sherlock Holmes, o detetive da literatura criado por Sir Arthur Conan Doyle, de volta aos cinemas em 2009. O ex da Madonna também dirige a continuação, Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras, que, ao contrário dos planos do seu vilão, tem arestas tanto como aventura quanto como adaptação de um clássico literário.

“O Jogo das Sombras” mostra a jornada que o detetive Sherlock Holmes (Robert Downey Jr.), em companhia do seu fiel amigo, Dr. John Watson (Jude Law), e da cigana Simza (Noomi Rapace) para impedir o plano impecável do gênio do mal James Moriarty (Jared Harris) de levar a Europa à guerra e, com isso, ficar rico.Os  destaques de “O Jogo” são as atuações de Jared Harris, Stephen Fry e Jude Law e alguns exercícios de estilo de Ritchie. Harris cria um vilão para quem conseguimos torcer contra, algo raro atualmente. Fry esbanja presença e rouba a cena com Mycroft Holmes, o irmão mais velho do protagonista. E Law interpretou com competência a falta de sal, expressão e carisma do Dr. Watson.  Quando eles e os outros atores não dialogam, há cenas de ação que são visualmente interessantes até o segundo ato. Como no primeiro filme, Guy Ritchie usa câmeras-lentas e closes bem orquestrados para mostrar as previsões sempre falhas de Holmes dos movimentos dos adversários.

Os exercícios de estilo de Ritchie convencem no início, mas se repetem no decorrer da história. Além disso, como o roteiro de “O Jogo”, igual ao do último “Piratas”, é apressado, de ritmo arrastado (faz duas horas parecerem cinco), confuso e não preocupado em situar o espectador, eles, no terceiro ato, alongam o tão ansiado fim com sua lentidão e detalhismo. Enquanto o visual recebeu muitos cuidados, a contextualização de Mycroft parece não o ter recebido. Isso porque ele é jogado na tela, não ganhando nenhuma explicação satisfatória da sua importância e origens na história. Fica a impressão de que ele só serve para ser o irmão mais velho e quebra-galhos do protagonista.


A relação homoerótica de Holmes com Watson é tratada de novo com leveza e bom humor.

Robert Downey Jr. parece ter se inspirado em Jack Sparrow. Assim, seu Holmes é cheio de excentricidade, maneirismos e britishness. Infelizmente, sua atuação tem arestas de todos os tamanhos. Há as menores, como o sotaque londrino: sua artificialidade é igual à de um palistano ou carioca interpretando com um sotaque nordestino genérico. As maiores ficam por conta da repetição de artifícios de atuação. O Holmes da continuação apenas repete o que deu certo no original. Para completar, Downey Jr. faz de Holmes um freak gente boa. Dá até vontade de tomar cerveja com ele. De acordo com os propósitos do filme de agradar à toda família, esse expediente funciona. Acontece que o detetive, nos livros, é uma criatura insuportável que resolve tudo com a inteligência e quase nunca apelando para a força bruta. Atualmente, o cerebralismo e a antissocialidade do detetive foram parar nas séries "House", abertamente inspirada no clássico de Conan Doyle, e em "Sherlock", que adapta as aventuras do detetive para o século XXI. As duas séries são melhores adaptações e – o mais importante – bem melhores narrativas.

Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras segue o filão aberto por "Piratas do Caribe" e deixou gancho para continuação. Espera-se que a cinessérie consiga aparar boa parte de suas arestas e acrescentar algo novo ao que já foi apresentado nos seus filmes e no gênero como um todo. 

Com melhoras, a gente relevaria por completo a simpatia desse Holmes.



NOTA: 7,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário