quarta-feira, 30 de março de 2011

Crítica: Sucker Punch - Mundo Surreal

Por César Nogueira


 Nas adaptações de Zack Snyder dos quadrinhos 300 de Esparta, de Frank Miller, e Watchmen, de Allan Moore, se destacam o apuro visual, as sequências de ação e a trilha-sonora, onde há basicamente rock. Há tudo isso em Sucker Punch – Mundo Surreal (2011), seu novo filme. Agora, Snyder se inspira fortemente no Japão e sua cultura pop para contar uma história visualmente interessante e cheia de mulheres bonitas, mas, infelizmente, raso como muitas das produções de onde o diretor buscou inspiração.


Baby Doll (Emily Browning), é uma órfã que, depois da morte da mãe, é mandada a um sanatório pelo padrasto, ganancioso pela fortuna que a mulher deixou. Em cinco dias, Baby Doll passará por uma lobotomia, para ela não lutar pelo dinheiro da falecida. Assim, para aliviar essa realidade cruel, a garota cria um mundo onde é dançarina de um bordel-prisão. Além disso, para escapar de dentro desse nível de imaginação (ou delírio) que lembra Moulin Rouge, ela criou um mundo onde tem habilidades sobrehumanas e, com a ajuda de quatro amigas, deve conseguir cinco objetos para escapar da prisão.


Sucker Punch tem uma bela direção de arte, que usa a estética noir para ambientar o filme ao tempo da história e externalizar a tristeza da vida de Baby Doll. A trilha-sonora vai de Björk a Pixies, passando por Queen e The Stooges. Zack Snyder também mostra com mundos fantásticos e cenas de luta por que conquistou o seu espaço em Hollywood. Dois destaques são o mundo medieval, inspirado em Senhor dos Anéis, e o futurista, onde o diretor usa as suas conhecidas sequências em slow-motion. Além disso, ele se inspira às vezes descaradamente na cultura japonesa. Por exemplo, Baby Doll entende o que deverá fazer no segundo nível de imaginação, num templo xintoísta, com a explicação de um mestre Zen (Scott Glenn, que faz o papel de mentor em várias outras cenas no decorrer da história, sempre disposto a proferir uma frase de auto-ajuda). Depois, terá que lutar com samurais inúmeras vezes maiores que ela usando uma kataná. Mas são nas sutilezas onde o filme mostra as suas maiores influências japonesas.


Detalhes como planos-gerais típicos de filmes de samurais, usados na parte do templo, dão “caldo” à estética. Também contribuem as lutas emulando confrontos vistos em animes como Yu Yu Hakusho e Dragon Ball, em que os golpes são capazes de destruir cenários e mandar os adversários a metros de distância. Snyder também se apropriou de conceitos de narrativa muito japoneses. O primeiro é a noção de grupo atrelada ao autosacrifício. Baby Doll só conseguirá alcançar o seu objetivo com a ajuda das amigas dançarinas-guerreiras e se não se deixar levar por desejos individualistas. O segundo conceito, associado àquele por causa do enredo do filme, é o de “garotas gostosas com armas”. Assim como Burst Angel e Ghost In The Shell, todas as garotas de Sucker Punch vestem trajes mínimos (e fetichistas: a roupa de Baby Doll é de colegial japonesa) e usam equipamentos de alta tecnologia, como robôs gigantes. Há até Fan Services, expedientes recorrentes em animes destinados a rapazes. Esses conceitos foram usados com a maior fidelidade possível em Sucker Punch. Inclusive com as suas possibilidades de erro e superficialidade.


As guerreiras lideradas por Baby Doll - e ela própria - têm personalidade e conflitos em quantidades mínimas. Como acontece em Final Fantasy: Advent Children, há personagens que só ganham razão de existir na hora dos combates, para ajudar a protagonista. É o caso de Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung), que não apresentam conflitos internos satisfatórios e entram no grupo do nada, ouvindo por cima a conversa de Baby Doll com as irmãs Sweet Pea (Abbie Cornish) e Rocket (Jena Malone). As duas são assassinadas: esse acontecimento é capaz antes de dispertar a indiferença ao espectador do que raiva de ter lido algum possível spoiler. Não bastando isso, o vilão, Blue (Oscar Isaac), é estereotipado e maniqueísta. A única personagem com um mínimo de humanidade e capacidade de surpreender é Dra. Gorski (Carla Gugino), que revela ser o que não aparenta. Quanto aos Fan Services, eles podem ser agradáveis num primeiro momento, graças à atenção generosa aos seios e bundas. Por causa da falta de vivacidade das personagens, eles acabam se destacando no filme. Isso pode ser muito bom se você for um adolescente no auge dos banhos demorados.



Filmes, digamos, borgeanos, onde mundos imaginários existem dentro de outros mundos imaginários, vêm ganhando espaço aos poucos. O melhor exemplo dessa forma de narrativa em audiovisual talvez seja A Origem. Além disso, o cinema está se apropriando da estética dos quadrinhos, videogames e animes. O Cavaleiro das Trevas, Scott Pilgrim e a produção de Akira demonstram essa aproximação. Zack Snyder tentou juntar as duas ideias, mas, infelizmente, aparenta ter se preocupado mais com a técnica e o visual do que com a história. Para piorar, ele pegou de suas influências até os erros. Se compararmos Sucker Punch a uma mulher, o filme é aquela garota linda e estonteante que perde toda a graça quando começa a falar. Desculpem a canhestrice e o machismo. Aliás, este é menor do que o apresentado pelo filme.


NOTA: 6,0

Um comentário:

  1. Gostei do filme! Achei super bem feitos os efeitos, adorei a história.. muito bom. Valeu a pena ter ido, depois de ter ficado tão curiosa com aquela promoção da Inteligweb hahaha

    ResponderExcluir